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Mulher triste
Mulher triste

A sociedade atual tende a negar cada vez mais o processo do luto, admirando aqueles que não passam por ele ou que passam de forma breve, o luto é processo natural que precisa ser realizado. Esse processo de elaboração é único para cada pessoa e consequentemente pode ter um tempo diferente de elaboração.

Um dos elementos que são trabalhados na análise é a importância da pessoa que se foi, algumas pessoas fazem parte da nossa vida desde que nascemos, outras ingressam em um determinado momento e cada uma delas tem um grau de importância.


Também podemos dizer que o processo do luto é um processo que não se acaba por completo, é praticamente impossível esquecer o sentimento que temos por alguém, é impossível esquecer o que ela nos fez sentir. Tudo que foi compartilhado com essa pessoa os bons e maus dias, as dificuldades, sonhos realizados e não realizados, em algum nível essa pessoa faz parte de nós.

Para alguns o processo de luto pode ser ainda mais delicado pois a relação com a pessoa que se foi, pode não ter sido boa, pode ter deixado feridas, más lembranças, dificuldades, todos esses elementos podem trazer a sensação de culpa, raiva e uma sensação de impossibilidade de elaboração, por bem, o processo analítico é indicado, pois o conflito reside dentro da pessoa, ela mesma precisa elaborar essas questões para poder conviver melhor com a ausência de quem se foi. Não conseguimos apagar um sentimento, mas podemos nomeá-lo, dar devido lugar a ele, direcionar essa energia de forma saudável.


Criança triste
Criança triste

Outro ponto importante é que dentro do processo de luto é essencial a possibilidade de despedida, no caso das crianças muitas famílias as privam desse momento, porque os adultos não sabem lidar com isso, mas é muito importante para o psiquismo da criança que a verdade seja dita, que ela possa comparecer fisicamente a despedida desse ente querido, que seus questionamentos possam ser respondidos de forma sincera, pois é mais saudável que ela passe por isso do que se sentir "enganada", as crianças são muito inteligentes, elas sabem quando algo não é sincero, elas captam as informações entre as linhas, por isso é essencial que a verdade seja dita, senão a criança pode desenvolver alguns transtornos psíquicos, por exemplo dizer que o ente querido foi viajar, pode deixar na criança a sensação de espera, e pode interferir no seu desenvolvimento psíquico. Afinal todos passamos por muitos lutos no decorrer da vida, fins de relacionamentos, mudanças de diversos tipos, casa, cidade, escola, trabalho, perder um animal de estimação, lidar com a separação dos pais, perder um brinquedo querido, uma roupa que não server mais...


É necessário que aprendamos a lidar com as perdas, pois, um luto se liga ao outro e assim já podemos imaginar o que vamos sentir, claro, tomada as devidas proporções, as perdas costumam ter a mesma sensação com intensidades diferentes, portanto perdas são necessárias, frustrações dão a capacidade da criança de lidar com todas as perdas da vida.


Um bom exemplo de dificuldade em lidar com a frustração é representado pela nova geração de adolescentes, eles possuem inteligência para invadir sistemas complexos de internet, mas não são capazes de lidar com a frustração do fim de um relacionamento. As pessoas que não conseguem lidar com nenhuma dimensão da perda e consequentemente da morte, podem desencadear quadros mais sérios, a frustração é essencial para lidarmos com a vida como ela é, afinal, toda escolha implica em uma perda.


Podemos perceber que estamos nos afastando cada vez mais desses "rituais" de despedida, algumas pessoas podem ter dificuldade de expressar seus sentimentos por uma perda. Na tribo dos Krahô no Tocantins, quando ocorre um luto todos ficam em silêncio (de alguma forma para eles esse silêncio representa respeito), quando a tribo percebe, que quem precisava chorar não consegue, alguém começa a chorar para que o outro, aquele que precisa chorar, possa expressar seus sentimentos. Muitas vezes nesse momento não existem palavras que possam curar a dor mas o principal acolhimento é dar espaço para a expressão do sentimento, permitir que a pessoa possa chorar, gritar, lamentar.


Freud dizia que as emoções não expressas são aprisionadas dentro de nós, mas inevitavelmente surgirão mais tarde, de formas piores e podem surgir como adoecimento, ansiedade, depressão ou até na forma da melancolia, que é um processo de luto que não pôde ser realizado. A melancolia é uma forma de adoecimento psíquico mais severo, em casos onde a pessoa não pode elaborar o luto, podendo levar a pessoa a ter surtos psicóticos, rompimento com a realidade, apatia e desinteresse por si e pela vida.


E porque a terapia psicanalítica é um dos lugares mais indicados para falar sobre esse processo?


Porque em analise você terá uma pessoa que é capaz de suportar o seu sofrimento e angústia, através de uma escuta focada, pois o papel da análise é dar espaço de expressão dos sentimentos como um todo, tanto dos sentimentos esperados, quanto dos sentimentos incompreendidos.

Isso, porque na maioria dos casos a pessoa sentirá necessidade de falar sobre esse assunto exaustivamente, até que todo o processo tenha sido concluído ou até que ela tenha os recursos psíquicos necessários para finalizá-lo.

É muito comum para a pessoa que está passando pelo processo de luto, ter dificuldade ou, não conseguir compartilhar seus sentimentos com outras pessoas, e é por isso a terapia pode ser essencial, pois a fala dentro do processo terapeutico, traz alívio a dor, traz novas percepções sobre a situação e sobre o momento vivido, traz uma maior compreensão dos sentimentos experimentados, principalmente ao sentimento de culpa (este que faz parte das etapas do processo de luto), e possibilita perceber que o melhor foi feito com os recursos disponíveis naquele momento.

Portanto, o que se espera ao final de um processo de luto, não é que se esqueça a importância do que foi perdido, mas, que a pessoa que passou por este processo tão doloroso, se permita voltar a viver.





Tampo mármore

"Sua felicidade depende da sua qualidade de vida"
Marina Zanchetta Psicanalista
CBO 2515-50

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